Foto: Ben Mullins/ Unsplash |
O QI (quociente intelectual) da humanidade está aumentando. Desde que se começou a fazer avaliações formais para o índice, no início do século 20, a pontuação média vem crescendo ao longo das gerações. Segundo o neuropsicólogo Daniel Fuentes, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, uma das explicações para esse fenômeno, chamado "efeito Flynn", é a melhoria da qualidade de vida da população, com maior acesso à alimentação, à saúde e à higiene. Ele também destaca o aspecto sociocultural, com o aumento da oferta de informação e de oportunidades de desenvolvimento cognitivo.
Para além de um alto QI, que há muito deixou de ser a única medida de inteligência, há crianças que podem ser classificadas como superdotadas por se destacarem em diversas áreas. A definição adotada oficialmente no Brasil para o conceito de superdotação - ou altas habilidades, como é mais recentemente conhecido - abrange, além da inteligência formal, áreas como criatividade, liderança, motivação, artes e desenvolvimento psicomotor. Assim, crianças que tenham talento para a música ou as artes ou que se destaquem em um esporte, por exemplo, podem se enquadrar na definição.
Para identificar essas crianças e prestar-lhes um atendimento diferenciado, o governo brasileiro está criando nas 27 capitais brasileiras centros específicos para esse público. A idéia é oferecer apoio para que desenvolvam suas habilidades --área em que o Brasil ainda tem pouca tradição em relação a outros países. "Consideramos o superdotado um excluído. Todas as crianças deveriam ter o direito de ter seu talento desenvolvido. As que se destacam merecem um atendimento diferenciado que a escola não dá conta de oferecer. Em geral, o professor não sabe quais são as características do superdotado e como ele pode escondê-las", diz a psicóloga Angela Virgolim, presidente da Conbrasd (Confederação Brasileira para Superdotação - www.conbrasd.com.br.
Núcleos
Segundo informações do Ministério da Educação (MEC), foram investidos R$ 2 milhões na criação dos Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S). Cada núcleo atenderá diretamente cerca de 60 alunos por ano.
Atualmente, o programa está em fase final de distribuição de equipamentos para a implantação dos núcleos. Apesar de alguns deles -como o do Mato Grosso do Sul- já estarem em funcionamento, a previsão de início das atividades para a maioria é a partir do final de abril.
O programa funcionará por meio de atendimento no período contrário ao turno de aula do aluno. A idéia é que ele continue a freqüentar classes regulares, mas conte com ajuda extra para desenvolver sua habilidade em outros horários. Dados do Censo Escolar 2005 -que identificaram apenas 1.980 crianças superdotadas em todo o país- mostram que o tema ainda é pouco divulgado.
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Uma das grandes confusões ocorre em relação ao conceito de superdotação. Para quase todo mundo, a primeira idéia que vem à cabeça é a da criança que sabe tudo de matemática e só tira nota máxima na escola. A definição adotada pelo governo brasileiro, que contempla várias áreas, foi inspirada em conceitos norte-americanos.
A idéia de que o superdotado sempre vai bem na escola também é um mito. Muitas vezes, ele apresenta desempenho acima da média em uma disciplina, mas não vai tão bem nas outras. Além disso, dificuldades de aceitação e falta de valorização do talento fazem com que muitos superdotados neguem suas habilidades e tenham mau comportamento na sala de aula. O tédio em relação aos conteúdos da escola, que muitos já dominam, também pode fazer com que eles se desinteressem das tarefas.
Em seu mestrado na UnB, Jane Chagas acompanhou 14 famílias de superdotados e outras 14 de alunos não-superdotados alunos de escolas públicas. Do primeiro grupo, 42% já haviam reprovado ou estavam defasados em relação ao ano letivo.
A pesquisadora também analisou o papel das famílias no desenvolvimento das habilidades dos superdotados. "Ficou evidente que um fator que favorece muito a superdotação é o fato de os pais valorizarem o desempenho dos filhos, procurando, por exemplo, monitores ou algum programa que possa auxiliar no desenvolvimento do talento deles", diz.
O estímulo familiar se enquadra nos chamados fatores ambientais, considerados por muitos especialistas fundamentais para desabrochar os talentos. Apesar disso, principalmente quando lidamos com a inteligência que pode ser medida por testes de QI (Quociente Intelectual), há um fator genético forte envolvido.
Segundo o neurocirurgião Joel Augusto Ribeiro Teixeira, presidente da Mensa Brasil (www.mensa.com.br) -sociedade formada por pessoas de alto QI-, trata-se de um campo recente e difícil de pesquisar. "A explicação mais simplista é que ocorra um maior número de sinapses, ou interligações entre os neurônios, no cérebro dos superdotados", diz.
Segundo Teixeira, não se sabe ao certo qual fator --a genética ou o ambiente-- é mais importante no desenvolvimento da superdotação. "A gente nota que a hereditariedade é muito importante. Por outro lado, pais mais inteligentes tendem a dar melhores opções ao filho, a explicar mais coisas para ele. Por isso, as coisas não são tão claras", afirma.
Ele diz que os testes de QI variam e que não há um resultado único que defina um limite para a superdotação. O que se faz é chegar a um valor estatístico situando o individuo em relação à população geral. Assim, é considerada superdotada a pessoa que estiver entre os 5% da população com melhor desempenho. A Mensa aceita apenas membros que fiquem na faixa dos 2%.
Há 13 anos, funciona em Lavras, uma iniciativa que é considerada uma referência na área. O Cedet (Centro de Desenvolvimento do Potencial e Talento) atende, atualmente, 700 crianças. Professores treinados vão semanalmente às escolas fazer a identificação dos alunos com altas habilidades. Os selecionados passam cerca de dez horas por semana fazendo atividades individuais ou em grupo voltadas para o talento que elas demonstram.
"Procuramos voluntários que ensinam o conteúdo. Neste semestre, temos mais de 70. São professores de botânica, lingüística, nutrição, teatro, música, dança e xadrez, entre muitas outras áreas", diz Zenita Guenther, diretora técnica da Aspat (Associação de Pais e Amigos para Apoio ao Talento, que cuida do projeto).
Um conselho dado por Zenita Guenther é o de não ficar mostrando muito as habilidades da criança para as outras pessoas. "Isso pode fazer com que ela perca o foco e passe a fazer aquela tarefa só para mostrar às pessoas. Os pais devem ficar com a boca mais fechada e os olhos e ouvidos bem abertos.” diz.
Para identificar os superdotados dentro das várias categorias da definição oficial de superdotação, o teste de QI não é suficiente. Além dos testes psicológicos , como os de criatividade, os especialistas dizem que existem sinais que possibilitam a identificação dessas crianças. São traços que os talentosos apresentam acima da média em relação àqueles da mesma faixa etária. Observar uma criança nas suas ações e reações cotidianas é a maneira mais natural de conhecê-la e compreendê-la.
Uma vez identificado o talento acima da média, recomenda-se que sejam criadas condições para que ele se desenvolva. Para isso, pode-se recorrer a atividades extra-classe ou a um programa especializado, como as salas de recurso, onde a criança pode desenvolver projetos relacionados a suas potencialidades e conviver com outras crianças de características parecidas.
Ampliando conceitos
Uma das grandes confusões ocorre em relação ao conceito de superdotação. Para quase todo mundo, a primeira idéia que vem à cabeça é a da criança que sabe tudo de matemática e só tira nota máxima na escola. A definição adotada pelo governo brasileiro, que contempla várias áreas, foi inspirada em conceitos norte-americanos.
A idéia de que o superdotado sempre vai bem na escola também é um mito. Muitas vezes, ele apresenta desempenho acima da média em uma disciplina, mas não vai tão bem nas outras. Além disso, dificuldades de aceitação e falta de valorização do talento fazem com que muitos superdotados neguem suas habilidades e tenham mau comportamento na sala de aula. O tédio em relação aos conteúdos da escola, que muitos já dominam, também pode fazer com que eles se desinteressem das tarefas.
"Muitas vezes, as atividades escolares são entediantes e direcionadas a um tipo só de resposta, sem a valorização do pensamento criativo. Quando o aluno não é atendido em suas necessidades, tende a negar o talento", diz a psicóloga Jane Farias Chagas, da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.
Em seu mestrado na UnB, Jane Chagas acompanhou 14 famílias de superdotados e outras 14 de alunos não-superdotados alunos de escolas públicas. Do primeiro grupo, 42% já haviam reprovado ou estavam defasados em relação ao ano letivo.
A pesquisadora também analisou o papel das famílias no desenvolvimento das habilidades dos superdotados. "Ficou evidente que um fator que favorece muito a superdotação é o fato de os pais valorizarem o desempenho dos filhos, procurando, por exemplo, monitores ou algum programa que possa auxiliar no desenvolvimento do talento deles", diz.
O estímulo familiar se enquadra nos chamados fatores ambientais, considerados por muitos especialistas fundamentais para desabrochar os talentos. Apesar disso, principalmente quando lidamos com a inteligência que pode ser medida por testes de QI (Quociente Intelectual), há um fator genético forte envolvido.
Segundo o neurocirurgião Joel Augusto Ribeiro Teixeira, presidente da Mensa Brasil (www.mensa.com.br) -sociedade formada por pessoas de alto QI-, trata-se de um campo recente e difícil de pesquisar. "A explicação mais simplista é que ocorra um maior número de sinapses, ou interligações entre os neurônios, no cérebro dos superdotados", diz.
Segundo Teixeira, não se sabe ao certo qual fator --a genética ou o ambiente-- é mais importante no desenvolvimento da superdotação. "A gente nota que a hereditariedade é muito importante. Por outro lado, pais mais inteligentes tendem a dar melhores opções ao filho, a explicar mais coisas para ele. Por isso, as coisas não são tão claras", afirma.
Ele diz que os testes de QI variam e que não há um resultado único que defina um limite para a superdotação. O que se faz é chegar a um valor estatístico situando o individuo em relação à população geral. Assim, é considerada superdotada a pessoa que estiver entre os 5% da população com melhor desempenho. A Mensa aceita apenas membros que fiquem na faixa dos 2%.
Há 13 anos, funciona em Lavras, uma iniciativa que é considerada uma referência na área. O Cedet (Centro de Desenvolvimento do Potencial e Talento) atende, atualmente, 700 crianças. Professores treinados vão semanalmente às escolas fazer a identificação dos alunos com altas habilidades. Os selecionados passam cerca de dez horas por semana fazendo atividades individuais ou em grupo voltadas para o talento que elas demonstram.
"Procuramos voluntários que ensinam o conteúdo. Neste semestre, temos mais de 70. São professores de botânica, lingüística, nutrição, teatro, música, dança e xadrez, entre muitas outras áreas", diz Zenita Guenther, diretora técnica da Aspat (Associação de Pais e Amigos para Apoio ao Talento, que cuida do projeto).
Um conselho dado por Zenita Guenther é o de não ficar mostrando muito as habilidades da criança para as outras pessoas. "Isso pode fazer com que ela perca o foco e passe a fazer aquela tarefa só para mostrar às pessoas. Os pais devem ficar com a boca mais fechada e os olhos e ouvidos bem abertos.” diz.
Avaliação
Para identificar os superdotados dentro das várias categorias da definição oficial de superdotação, o teste de QI não é suficiente. Além dos testes psicológicos , como os de criatividade, os especialistas dizem que existem sinais que possibilitam a identificação dessas crianças. São traços que os talentosos apresentam acima da média em relação àqueles da mesma faixa etária. Observar uma criança nas suas ações e reações cotidianas é a maneira mais natural de conhecê-la e compreendê-la.
Uma vez identificado o talento acima da média, recomenda-se que sejam criadas condições para que ele se desenvolva. Para isso, pode-se recorrer a atividades extra-classe ou a um programa especializado, como as salas de recurso, onde a criança pode desenvolver projetos relacionados a suas potencialidades e conviver com outras crianças de características parecidas.